Publicado em:
6/1/2023
Descubra o que é a cirurgia bariátrica, seus tipos, riscos e as mudanças que ela promove na vida de quem precisa perder peso.
A cirurgia bariátrica é uma das opções de tratamento para a obesidade, sendo muito eficaz quando bem indicada. É uma opção estigmatizada e o preconceito em torno dela, impede que várias pessoas se beneficiem desse procedimento e alcancem uma melhora da sua qualidade de vida.
Em primeiro lugar, devemos lembrar que a cirurgia jamais será um “caminho fácil”, afinal decidir operar significa aceitar que haverá mudanças no funcionamento do trato gastrointestinal de forma definitiva, ou seja, é uma decisão de longo prazo.
Estudos mostram que, na média, há uma melhora importante na qualidade de vida e em alguns casos pode reverter algumas doenças metabólicas como diabetes tipo 2, hipertensão arterial e melhorar o colesterol. Mas isso não significa que mudanças não serão necessárias, como principalmente o ajuste da alimentação e de exercícios físicos, que devem ser mantidos por toda a vida após a cirurgia.
Vale dizer aqui, que não é a ''última opção'' como muitos falam, é uma das opções que, a depender da individualidade de cada um, será adequadamente indicada por uma equipe de saúde especializada e que acompanhe de perto o paciente.
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De acordo com a Sociedade de Cirurgia Bariátrica e Metabólica Brasileira, a cirurgia bariátrica reúne técnicas respaldadas cientificamente como forma de tratamento para a obesidade de nível grave ou nos casos em que o indivíduo apresenta comorbidades relacionadas. Popularmente conhecida como “cirurgia de redução do estômago”, o procedimento altera a forma original do órgão e, consequentemente, a forma como ele irá digerir e absorver os alimentos.
Dados da Biblioteca Virtual em Saúde, do Ministério da Saúde, comparam o antes e depois da cirurgia bariátrica: um estômago adulto preservado comporta um volume de 1 litro a 1,5 litros. O estômago pós-bariátrica, por sua vez, consegue receber de 25 ml a 200 ml de alimentos.
É comum ver pessoas que desejam emagrecer buscando na internet a resposta para perguntas como “posso fazer cirurgia bariátrica com 90 quilos?”, por exemplo. Mas a resposta definitiva só vem após uma avaliação médica criteriosa.
Os critérios atuais para indicação da cirurgia bariátrica são: estar com obesidade grau III, caracterizada pelo Índice de Massa Corporal (IMC) superior a 40. Mas se forem diagnosticadas doenças associadas a esse quadro, um IMC acima de 35 já é suficiente. Vale lembrar que, para chegar ao IMC, basta calcular o peso em quilogramas dividido pela altura (em metros) ao quadrado. Diabetes tipo 2, pressão alta e esteatose hepática (gordura no fígado) são alguns exemplos de doenças relacionadas à obesidade e que podem ser levadas em consideração na indicação do procedimento.
O acompanhamento deve ser multidisciplinar, com médico especialista, nutricionista, psicólogo, educador físico e outras especialidades de acordo com as necessidades de cada um.
E o balão gástrico? Hoje é um procedimento realizado por endoscopia digestiva alta. Consiste na alocação de um balão na cavidade do estômago, com o objetivo de reduzir a capacidade do órgão de receber alimento. Essa restrição ajuda a diminuir a ingesta alimentar e pode ajudar no emagrecimento. É uma estratégia usada também com o objetivo de reduzir o peso da pessoa antes da cirurgia bariátrica - em alguns casos, essa redução melhora a recuperação pós-operatória.
A avaliação psicológica é fundamental para atestar se o paciente se encontra em condições de passar pela cirurgia bariátrica e lidar com a nova realidade pós-operatória. São necessárias algumas sessões para que o profissional possa avaliar se o paciente apresenta condições psicológicas para o procedimento, seja ele realizado pela rede pública ou privada. Aspectos como a relação familiar, estado emocional, rotina e expectativas são alguns exemplos do que é avaliado em terapia.
Também é necessário o acompanhamento com nutricionista. O profissional vai avaliar dados antropométricos e bioquímicos, elaborar planos alimentares para o pré e o pós-operatório pensando na reeducação alimentar e na mudança do estilo de vida que serão necessários por toda a vida. Aprender a fazer escolhas alimentares equilibradas entendendo o papel da alimentação na composição corporal e na saúde como um todo, são fundamentais para que o resultado do procedimento seja satisfatório. No laudo nutricional para bariátrica, vão constar dados como: alterações do peso durante as consultas, histórico do paciente e o diagnóstico nutricional favorável à realização da cirurgia.
Atualmente, há duas técnicas mais utilizadas: a cirurgia de bypass (também conhecida como gastrectomia em Y de Roux) e a gastrectomia vertical (sleeve). A cirurgia bariátrica pode ser classificada em: restritiva, disabsortiva ou mista. No primeiro caso, diminui-se o tamanho do estômago e, como consequência, a quantidade de alimentos que ele consegue armazenar enquanto inicia o processo de digestão. Já a cirurgia disabsortiva promove mudança na absorção dos nutrientes no intestino. Nos procedimentos classificados como mistos, temos tanto a restrição do tamanho do estômago quanto a alteração de absorção.
Ambos são seguros e eficazes na perda de peso. Veja mais detalhes a seguir.
No método bypass, a cirurgia bariátrica consiste em reduzir o tamanho do estômago que irá receber o alimentos, e também é feita uma mudança no intestino. A alteração intestinal chamada de Y de Roux é como um atalho, que faz com que o alimento deixe de passar por aproximadamente 2 metros de intestino delgado, diminuindo a absorção de calorias e nutrientes. A duração da cirurgia é de aproximadamente 2 horas e a anestesia geral é necessária.
Geralmente, a técnica escolhida para a cirurgia de bypass é a videolaparoscopia ou a robótica, que são menos invasivas que a técnica convencional ou aberta (na qual os cortes abdominais são maiores). A cirurgia bariátrica laparoscópica pode ser realizada gratuitamente pelo SUS. De acordo com o Ministério da Saúde, o método de bypass é aplicado em 70% das cirurgias realizadas no Brasil. Esse é um dos tipos de cirurgia bariátrica recomendada para pacientes com refluxo gastroesofágico, diabetes e síndrome metabólica.
Algumas vantagens do bypass estão relacionadas às melhorias que ela promove no metabolismo: redução da resistência periférica à insulina, redução da produção de grelina (o "hormônio da fome") e aumento da liberação de hormônios intestinais que aumentam a saciedade.
Nesse método, uma parte do estômago é removida, mas não há modificação no trânsito intestinal. É realizado um corte vertical no estômago que retira a curvatura e o fundo gástricos, transformando o estômago em uma espécie de tubo, com capacidade que pode variar entre 80 a 100ml. Em comparação com a cirurgia de bypass, o estômago permanece com um volume maior - no bypass fica em torno de 50ml. Além da restrição que ocorre devido à diminuição do estômago, ocorre também redução da sensação de fome, porque a grelina é diminuída com a remoção do fundo do órgão - onde está a maior concentração de células produtoras desse hormônio.
Quando o assunto é cirurgia bariátrica, o valor do procedimento é uma das dúvidas mais comuns. É preciso levar em consideração que tanto no pré quanto no pós-operatório, são necessários exames laboratoriais, exames complementares, como endoscopia digestiva alta e ultrassonografia abdominal, além do acompanhamento com outros profissionais de saúde - como psicólogo, nutricionista e educador físico.
Veja as opções disponíveis para a realização de uma cirurgia bariátrica:
O Sistema Único de Saúde realiza cirurgia bariátrica em pessoas com grau de obesidade elevado e que tenham indicação. É preciso ter mais de 16 anos, além de IMC maior ou igual a 40 ou IMC superior a 35 e comorbidades relacionadas. Todo o pré-operatório é realizado pelo SUS, mas o tempo de espera para a cirurgia pode levar de 6 meses a 4 anos.
O convênio médico pode cobrir parcial ou integralmente os custos de uma cirurgia bariátrica, que podem ficar entre R$ 20 mil e R$ 40 mil reais, aproximadamente. Vale a pena buscar indicações de pessoas que já realizaram a cirurgia bariátrica e, se possível, ouvir a opinião de profissionais diferentes antes de começar o pré-operatório.
A cirurgia bariátrica é segura e os riscos de óbito são baixos: menos de duas em cada mil cirurgias são mal sucedidas nesse aspecto. As complicações que podem surgir no momento do procedimento são relacionadas às doenças pré-existentes, como por exemplo, a hipertensão e o diabetes. Nesse cenário, o acompanhamento pré-operatório é essencial para minimizar riscos e preparar tanto o paciente quanto a equipe cirúrgica para a melhor execução do procedimento.
No caso da cirurgia bariátrica, complicações a longo prazo envolvem tanto sintomas físicos quanto psíquicos. Afinal, trata-se de uma grande mudança para o paciente, que pode perder muitos quilos em um curto período de tempo. Aproximadamente 10% do peso corporal é eliminado já no primeiro mês. Depressão e ansiedade são duas condições que podem surgir no pós-operatório, quando ocorrem importantes mudanças no estilo de vida - por isso a importância de manter o acompanhamento multidisciplinar.
A seguir, alguns sintomas físicos que podem surgir após a bariátrica:
Um aumento no volume de gases é observado por muitas pessoas que fazem bariátrica. Quando os alimentos passam muito rápido pelo estômago e terminam de ser digeridos no intestino, são as bactérias responsáveis pelos gases que concluem a digestão. O controle desse efeito indesejado é feito por meio da alimentação.
Essa não é uma complicação comum, principalmente para os pacientes que seguem o plano alimentar pós-operatório e, mesmo depois de receber alta, continuam a ter uma alimentação balanceada. Porém, pode acontecer quando não há consumo de fibras suficientes no dia a dia.
Após a perda de peso rápida e acelerada que geralmente ocorre nos primeiros meses de pós-operatório, o excesso de pele se torna visível. Este, pode ser corrigido com a dermolipectomia - cirurgia que remove a pele excedente. Além dos fatores estéticos na diminuição da flacidez, a cirurgia reparadora pós bariátrica também melhora a postura e até o equilíbrio do paciente, que está se acostumando ao seu novo corpo. Outros procedimentos cirúrgicos que podem ser realizados após a bariátrica são: abdominoplastia pós bariátrica, mamoplastia, lifting facial, dos braços e das coxas e cirurgia de contorno corporal. Caso o paciente opte por alguma dessas cirurgias, o ideal é que o peso corporal esteja estável por pelo menos 1 ano.
Os primeiros dias após a cirurgia bariátrica são os mais delicados na alimentação. É preciso acostumar o estômago a receber água e alimentos na quantidade que ele comporta agora. O volume de hidratação não muda. O que é alterado é a forma como as porções são divididas: a recomendação é ingerir pequenas quantidades de água distribuídas ao longo do dia. A alimentação, via de regra, é líquida a pastosa nos primeiros 15 dias. A dieta pastosa pós bariátrica deve ser seguida durante o período indicado pelo médico, que não costuma ser menor que 30 dias. Lembre-se que para a prescrição de planos alimentares, são necessários acompanhamento médico e nutricional
O plano alimentar de um indivíduo que passou por cirurgia bariátrica contém todos os grupos alimentares. No pós-operatório imediato, algumas orientações específicas relacionadas ao volume alimentar e a frequência das refeições ao longo do dia são importantes. Com o passar dos dias, o organismo se adequa às mudanças feitas no trânsito intestinal, e aos poucos essas recomendações se tornam flexíveis e o indivíduo consegue ter uma alimentação balanceada e equilibrada. Semelhante ao recomendado para indivíduos que não foram submetidos à cirurgia, o objetivo é manter o corpo bem nutrido e o metabolismo saudável.
Cirurgia bariátrica não é uma solução milagrosa. Não basta passar pela operação se, posteriormente, o mesmo estilo de vida que levou o indivíduo ao quadro de obesidade continua sendo praticado. Passar por uma cirurgia de redução de estômago é uma alternativa para perder peso, mas há um conjunto de cuidados com a saúde que são diários e devem permanecem ao longo de toda a vida - o mesmo se aplica para quem não é submetido à cirurgia bariátrica, pois o cuidado constante é o que torna o nosso corpo verdadeiramente saudável. Mais do que emagrecer, para se sentir disposto e ter energia para as tarefas do dia a dia, é preciso se alimentar bem, beber água, exercitar o corpo com regularidade e cultivar bons sentimentos e relações.
O acompanhamento profissional - com um time de saúde especializado - é recomendado em longo prazo. Um plano alimentar elaborado de acordo com as suas necessidades e um acompanhamento próximo, que leva em conta seu bem-estar físico e emocional, são uma forma de passar por essa adaptação de forma mais suave e segura.
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