Publicado em:
21/12/2023
Até o final da década de 90, o termo "soroterapia" estava associado à técnica de utilizar soros, também conhecidos como imunossoros ou soros terapêuticos, para tratar doenças específicas, como tétano, raiva e envenenamento por picadas de animais venenosos, entre outras condições.
Nos tempos mais recentes, a expressão "soroterapia" passou a designar o uso de soros (terapias endovenosas, isto é, medicamentos administrados via veia) específicos para tratar deficiências nutricionais, especialmente quando a absorção desses nutrientes pelo sistema digestivo encontra-se comprometida.
Com a evolução da compreensão sobre a importância dos nutrientes para o funcionamento saudável do metabolismo, surgiu a ideia de empregar soros como veículos eficazes para fornecer nutrientes essenciais, principalmente em situações em que a absorção desses nutrientes pelo sistema digestivo pode estar prejudicada.
No entanto, nos últimos tempos, o termo se popularizou por razões menos auspiciosas. Algumas práticas inadequadas de profissionais de saúde deram origem a uma maior atenção na mídia e nas redes sociais ao uso da soroterapia para administração de vitaminas, minerais, antioxidantes e/ou aminoácidos via endovenosa, sob os rótulos de "aumento da imunidade", "soro da beleza" entre outros. É importante ressaltar que essas formas de "soroterapia" não são reconhecidas e não possuem respaldo do conselho médico nem da Associação Brasileira de Nutrologia, e não fazem parte das orientações oferecidas aos pacientes da Liti.
Medicamentos e nutrientes administrados por via intravenosa podem sim desempenhar um papel valioso em situações específicas, como a reposição em pacientes com carências nutricionais. Segundo o Conselho Federal de Medicina, a soroterapia deve ser reservada para casos em que há uma real necessidade do uso do soro.
É bem estabelecido que a primeira abordagem preferencial deve ser a via oral, através de uma dieta variada e balanceada, que é capaz de suprir as necessidades diárias de vitaminas e minerais. Acreditamos firmemente nessa abordagem na Liti, e incentivamos nossos pacientes a adotarem um estilo de vida nutricionalmente adequado, como sugeriu Hipócrates, o pai da medicina: "Que seu remédio seja seu alimento e que seu alimento seja seu remédio", uma sabedoria que se mantém relevante ao longo dos séculos.
Entretanto, em situações de enfermidades ou condições que comprometem a absorção adequada de nutrientes, pode ser necessário recorrer a fontes alternativas de alimentação.
Para casos em que a alimentação não é suficiente, a reposição ou suplementação por via oral é a segunda opção mais fisiológica. Somente em casos de persistência da condição, a suplementação por via intramuscular ou intravenosa é considerada, principalmente em pacientes crônicos com má absorção intestinal.
Um exemplo comum são os pacientes pós-bariátricos, especialmente após cirurgias disabsortivas, nos quais deficiências frequentes, como de Ferro e Vitamina B12, podem requerer a soroterapia como recurso.
É essencial esclarecer que a prática atual da soroterapia não está alinhada com os princípios da Nutrologia. A Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN) já se manifestou contrária a essas práticas em suas redes sociais e no seu próprio site. Indicar um nutriente por meio de soroterapia exige um vínculo causal claro e a via digestiva deve ser a prioridade. Dieta e suplementos por via oral são a abordagem padrão e continuarão a ser a primeira escolha, independentemente das tendências momentâneas. É fundamental destacar a falta de embasamento científico na literatura médica para apoiar a "soroterapia da beleza e da imunidade, entre outras".
Parenteral provision of micronutrients to adult patients: an expert consensus paper. JPEN J Parenter Enteral Nutr. 2019;43(Suppl 1):S5-S23.